Um relâmpago despencou das estrelas, fazendo a água do rio jorrar numa altura acima das copas das árvores.
Debaixo d’água, agonizava o ser cujo rosto era uma pintura em forma de caveira. A poderosa mão segurava seu pescoço enquanto ele se debatia sob as águas do rio, que ferviam de forma cada vez mais intensa conforme lutava.
Quando o brilho de seus olhos vermelhos apagaram-se, ergueu-se então do rio outro corpo. A noite profunda não permitia vê-lo completamente se não pelo corpo belo e poderoso contra a luz da lua:
- Você não me deixou outra escolha – disse aquele que se ergueu do rio, tornando-se um relâmpago e retornando ao céu.
Em redor, criaturas gemeram, assobiando e fazendo com que as feras noturnas fugissem. Um farfalhar de folhas denunciava também a desesperada dos pássaros em redor. De toda parte, aquelas criaturas translúcidas e cadavéricas vinham em direção às margens do rio. Levavam água daquele rio à boca, como se tentassem desesperadamente saciar sua sede.
O funeral havia terminado. E daquele dia em diante aquele rio seria conhecido como Anhangabaú, o Bebedouro das Assombrações.
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